sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Crónicas do futuro 2113

A Grande Era da Estupidez (1990 - 2113)

A Grande Era da Estupidez foi por consequência irónica a Grande Era da Informação. O grande desenvolvimento tecnológico durante o século XX possibilitou ao Homem, uma grande panóplia de ferramentas que possibilitaram um acesso mais rápido e eficiente aos meios de comunicação. Longe foram os tempos em que os Estados controlavam a informação a que cada um teria acesso (com excepções, em especial na Ásia) e esta tornou-se disponível a todos, mas mais do que isso, a informação tornou-se controlável por todo e qualquer ser humano com acesso à Internet e o mínimo de escolaridade. A informação deixou portanto de ser controlada por profissionais do ramo e tornou-se mais amadora, mais simples e mais estúpida.
Alguma vez experimentaram estar no meio de um aceso debate? Repararam que nesses, quem fala mais alto é quem melhor se ouve a si mesmo? E que o restante auditório não está minimamente interessado naquilo que está a dizer quem está a partilhar, mas apenas aguardando a sua vez para falar mais alto? Neste caso não há emissores e receptores mas apenas o primeiro. Quando tal acontece, o conhecimento não é partilhado e torna-se vazio e desproporcionado de um contexto. Sendo assim é apenas mais uma garrafa com uma mensagem no oceano.
Por consequência o défice de atenção decaiu até níveis nunca experimentados pelo ser humano. A sensação de enfartamento de informação foi semelhante a alguém que tem uma enorme biblioteca com milhares de títulos mas que não sabe por onde começar, portanto não começa por lado nenhum. A ilusão de um acesso facilitado e imenso à informação teve no ser humano o impacto exactamente oposto ao pretendido. Em vez de aumento de conhecimento e experiência, surgiu o aumento da estupidez e uma arrogância e ignorância a ela acoplados. 
Com o primeiro aparelho portátil com acesso à Internet surgiu a Grande Era da Estupidez.
Vamos analisar as principais características da mesma:
- Uma proliferação de entretenimento cronometrado. Dado o aumento de informação e a ilusão da falta de tempo, o tempo de entretenimento começou a ser marcado como se de uma batuta tratasse. Se após 40 segundos, o leitor e/ou ouvinte não se sentir minimamente preenchido com aquilo que está a visualizar e /ou ouvir, é tempo de passar para outro vídeo/música/texto que preencha os requisitos acima descritos. Ainda que tenha muitas visualizações e/ou escutas, o fenómeno será meramente passageiro e não será recordado. Na Grande Era da Estupidez nada teve uma História.
- A degradação das condições de vida da maioria da população. Esta com os cortes salariais e aumento de impostos tendo em vista a alimentação constante do monstro bancário, levou o ser humano a fazer qualquer coisa por dinheiro. O dinheiro tornou-se mestre e o Homem seu escravo, como nunca antes se sucedera na História humana. Perante tamanha pressão, o Ser Humano sujeita-se a tudo e abdica de todo o tipo de valores.
- As religiões como objectos museológicos. Perante o laicismo de todos os Estados Ocidentais, o Ser Humano experimentou pela primeira vez desde que saiu das cavernas, uma ausência de espiritualidade que se repercutiu nos valores acima mencionados. Valores como partilha, a ajuda ao próximo, a hospitalidade e a "bondade" tornaram-se obsoletos e encarados como uma perda de tempo. O individualismo proporcionado por uma informação no momento e acessível no bolso, levou a que o Humano deixasse de ter necessidade do Outro. Como o Outro desaparece, com ele desaparecem os valores inerentes, incutidos durante gerações. O Humano sem estes torna-se como um cão perdido que não sabe para onde ir, mas que pensa que sabe, dada essa Informação disponível. Essa ilusão potencia a Estupidez
- O aumento das doenças mentais. Desde o Iluminismo que o Humano potencia muito mais o cérebro e o Racionalismo até pontos outrora inimagináveis. Com essa prevalência da Racionalidade acima do Animal, toda uma série de doenças mentais novas surgiram durante todo o século XX. Com estas veio um acompanhamento terapêutico e uma série de drogas para iludir essas mesmas doenças . Essas drogas químicas produzidas por grandes laboratórios internacionais tornaram-se de tal forma vulgares, que mesmo quem não necessita delas as usa. Com isso veio um grau de adição e uma velhice que leva muitas vezes a uma descompensação que se torna irreversível, especialmente pela degradação das condições de vida mencionadas no ponto 2 

(... a continuar )

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