sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A desonestidade nacional - razões e bases

Há uns dias atrás fizeram um estudo junto de algumas  cidades em todo o Mundo para comprovar a honestidade das pessoas. Deixaram em locais públicos 12 carteiras com o equivalente a 37 euros + documentos identificativos + um número para contacto, e o pior aconteceu.
Lisboa ficou em último lugar de uma lista de cerca de 16 cidades do Mundo. A única carteira devolvida foi obra de um casal de sexagenários holandeses que por cá passava férias. Uma vergonha? Sim. Uma surpresa? Não.
Confesso que tive um contacto tardio com a desonestidade e com a corrupção (que andam sempre de mãos dadas). Descendo de uma família que honra os seus princípios e tem uma ética quase samurai na maneira como lida consigo e com os outros. Mas aos poucos, com o contacto social, a desonestidade começou a vir ao de cima. Não sei se se recordam aqueles que nasceram no início dos anos 80 que jamais era anunciado em qualquer orgão de comunicação social, qualquer acto de corrupção por parte de empresas ou indivíduos. Foi exactamente na fase em que entramos na União Europeia que muito destes casos que só hoje vêm a lume, começaram a ser cozinhados com a respectiva redistribuição desse dinheiro comunitário pelos diversos tentáculos de clientela, só possível em quem só pensa na exacta proporção do horizonte que vê. O final daquele monte que já é outra freguesia.
A partir do século XXI inúmeros casos começaram a ser denunciados na comunicação social e o pior aconteceu mais uma vez. Não haverá provavelmente uma grande empreitada encetada por nós (seja uma Expo 98, um Euro 2004, um Porto 2001) que não esteja manchado pelo escarro verde e viscoso da desonestidade humana. São milhões e mais milhões de euros desviados desde casos nebulosos de bancos como o BPN a desorçamentação e derrapagem de qualquer obra pública em que se chega a uma altura e já nem sequer se sabe qual foi o orçamento inicial.
Porque somos tão trapaceiros e trafulhas? Eu penso que tem a ver com uma mão cheia de razões. Uma chama-se "a nossa pequenez", uma outra é o Oceano Atlântico e também a nossa própria História.
Quanto ao segundo ponto, foi num dos portos mais míticos espalhados pelo Mediterrâneo que tive contacto com o "fare a portoguesi". E de que se trata isso? Um sair sem pagar. Tomei conhecimento com esta expressão numa esplanada em Génova, onde o empregado de mesa num tom jocoso nos perguntou se íamos pagar ou "fare a portoguesi". Era apenas uma piada local, mas segundo ele perde-se nas brumas do tempo da própria cidade a origem da expressão.
E aí vem a parte do Oceano Atlântico. Nós fomos um povo de exploradores marítimos mas acima de tudo de comerciantes. Há até um historiador inglês que nos estampa o epíteto de "criadores da globalização e do capitalismo moderno". Era natural nesses negócios (embora nunca referenciado em nenhum estudo histórico), aqueles que comandavam o navio ficarem com um quinhão dos negócios feitos Além-Mar. Efectivamente muitos destes navegadores enriqueceram grandemente a seguir aos Descobrimentos e não era por saberem o bombordo e o estibordo, até porque nenhum destes navegadores era oficialmente um comerciante. Era porque também faziam negócios em B, para além dos negócios em A. Aliás acredita-se que só cerca de 20 por cento do que era adquirido no Índico chegaria aos nossos armazéns em Antuérpia onde era depois escoado para as feiras do centro da Europa.
Mas até podemos ir mais para trás para descortinar a raíz deste problema. Efectivamente Afonso Henriques, o nosso primeiro rei, enganou continuamente e durante vários anos o Papa da altura. Todos os Estados afectos à Igreja tinham de pagar uma espécie de imposto papal anual em moedas de ouro. Por uma razão ou outra o nosso carregamento de moedas nunca chegava a Roma. Salteadores e ladrões de estrada dizia-lhes Afonso Henriques. Após exaustiva investigação e um espião enviado pelo Vaticano descobriu-se a verdade: o dinheiro nunca tinha saído sequer dos cofres reais. Era tudo inventado.
Ou seja, a desonestidade é-nos algo intrínseco e nunca poderá desaparecer da nossa vista enquanto Portugal e portugueses existirem. Ela circula no nosso ADN como um gelado circula para fora do cone em dias de extremo calor. Poderíamos apostar na formação, mas isso nunca mudaria nada e seria no fundo um desperdício de tempo e dinheiro. Temos de aprender a lidar com a desonestidade e a corrupção a ela inerentes. E não, ela não é só apanágio dos ricos e poderosos. Conheço gente que foi desonesta comigo e com outros próximos e que não se encaixa nesse perfil de Oliveira e Costa /Isaltino Morais.
Mas porra, 12 carteiras e a única que é devolvida tem de ser através de um casal reformado de holandeses é um atestado de trafulhice de toda a ordem. Pior: é a merda de uma tatuagem de âncora na cara.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Uma música por dia terminou.

Não acho que seja necessário andar a impingir músicas às pessoas. Elas ouvem o que querem, quando querem e não sou ninguém para lhes dizer o que ouvir.
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domingo, 15 de setembro de 2013

Dark Horse Official Trailer #1 (2011) Todd Solondz Movie HD



Crítica a "Dark Horse" de Todd Solondz. 7/10.
Raro é o filme que coloca um "slacker" como personagem principal. É fácil criarmos empatia com um Lebowski porque todos nós somos um bocado aquilo. Gostamos é de andar em "lounge pants", beber cocktails a qualquer hora do dia e pagar um pacote de leite com um cheque. Isso e Creedence. Mas criar empatia com um man-baby preguiçoso que deixou de evoluir aos 15 anos é uma tarefa bem mais árdua.
Todd Solondz, meste do humor negro e do desconforto é o grande realizador do lado obscuro da suburbia norte-americana. Uns quadros muito vívidos de uma América que se reforma aos 65 para se mudar para a Florida por entre pinceladas de Xanax, facadas no matrimónio e perversidade sexual q.b.
Solondz convoca portanto para a linha da frente um "slacker" com o qual muito dificilmente nos conseguiremos identificar . Uma jogada muito arriscada. Jordan Gelber faz de Abe, um tipo com 35 anos, praticamente virgem, que vive em casa dos pais, trabalha na empresa do cota (um Christopher Walken de capachinho) fazendo balancetes, guia um Hummer amarelo, ouve música pop descartável e tem tiradas que não colocam o espectador do lado dele. Exemplos são os ataques de "drama queen" em que se queixa que é velho demais para o "American Idol" ou aquela vez em que cobra 850 dólares à mãe da parte do jogo de gamão - que jogam quase todas as noites - para comprar action figures dos "Thundercats" e "Simpsons" e que são aliás a decoração do seu quarto. E é nisso que Solondz é mestre: o brincar com as expectativas do espectador, baralhando-o todo e surpreendendo-o no final. Nisso Happiness (1998 film) colocou-o rapidamente na lista dos realizadores a seguir de finais dos anos 90 em diante. E é neste final que não falhou em "Happiness" que Solondz enterra a meu ver este "Dark Horse". É pelo final que leva um 7 e não um 9.

sábado, 14 de setembro de 2013

http://www.waitbutwhy.com/2013/09/why-generation-y-yuppies-are-unhappy.html

Artigo sobre as expectativas da Geração Y (nascidos entre finais dos 70s e metade dos 90s). Brilhante.

A Certain Ratio - Do The Du


Uma música por dia

#19 A Certain Ratio (Madchester/Inglaterra)

ps: vou deixar de colocar aqui uma biografia. consultem o google para mais info
A Grande Era da Estupidez (continuação)

-Ao nível da arte, esta é a Grande Era da Reciclagem. Quer nas artes plásticas, na música e no cinema um autêntico Muro de Berlim obstou no encontro destas. Reféns das próprias regras e da sua finitude, estas passaram a obedecer a trâmites rigorosos dada a descoberta da consciência da tal finitude.
Assim nas artes plásticas, o artista deixa de ser o autor material da obra. Condicionado pela obrigação do conceptualismo, este passa a ter um gabinete que trata de conseguir os materiais necessários para a construção da obra. Portugal descobre isso tarde com Joana Vasconcelos que através de sapatos altos feitos de panelas e helicópteros embutidos de cristais e tapetes de Arraiolos lança o debate num país onde a massa crítica é feita por pessoas que fazem 3 viagens anuais a Londres ou que até chegam a lá morar, servindo cervejas durante a noite e enviados artigos por e-mail de madrugada. Uma massa crítica de bolo, portanto.
Ao nível da música assistimos a fenómenos de reciclagem de géneros de décadas passadas que envolvem desde a música à estética. O fenómeno dos "comebacks" também ganha eco nesta Era, originando episódios tão patéticos como assistirmos a homens de 55 anos a interpretarem letras que escreveram com 17 . Nenhum novo fenómeno musical emana a partir da Queda do Muro de Berlim. A música electrónica parece ganhar força nesta altura tornando-se no novo fenómeno de massas. Assim em vez de termos assistências que apreciam uma pessoa ou pessoas realmente tocando um instrumento, temos assistências que apreciam uma pessoa que está a passar música que está realmente já gravada. A música electrónica tem a partir dos anos 10 do século XXI o seu óbito consumado pela sua finitude e limitação. Tal como aconteceu com a música orgânica, a reciclagem começa a tornar-se vulgar atirando este género de música para uma espiral que surge sempre com objectos à tona que já tinham sido detectados antes. No fundo como um "maelstrom" que cospe sempre os mesmos pares de sapatos.
O cinema também encontra em finais do século XX o seu Muro de Berlim. Confinado a fórmulas gastas é salvo temporariamente por meia dúzia de realizadores e argumentistas independentes que tentam fugir ao marasmo instalado criando paisagens que tem tanto de pessoais como de revolucionárias para o género, atirando o próprio género contra si mesmo. É de destacar uma cena do filme "Adaptation" escrito por Charlie Kaufman em que a personagem interpretada por Nicholas Cage que na realidade é o próprio Kaufman se confronta com um professor para argumentistas de cinema numa palestra questionando-o se era possível uma personagem não mudar no final de um filme, tal como acontece na vida real. A resposta assertivamente negativa é um momento chave na morte da Sétima Arte.


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Crónicas do futuro 2113

A Grande Era da Estupidez (1990 - 2113)

A Grande Era da Estupidez foi por consequência irónica a Grande Era da Informação. O grande desenvolvimento tecnológico durante o século XX possibilitou ao Homem, uma grande panóplia de ferramentas que possibilitaram um acesso mais rápido e eficiente aos meios de comunicação. Longe foram os tempos em que os Estados controlavam a informação a que cada um teria acesso (com excepções, em especial na Ásia) e esta tornou-se disponível a todos, mas mais do que isso, a informação tornou-se controlável por todo e qualquer ser humano com acesso à Internet e o mínimo de escolaridade. A informação deixou portanto de ser controlada por profissionais do ramo e tornou-se mais amadora, mais simples e mais estúpida.
Alguma vez experimentaram estar no meio de um aceso debate? Repararam que nesses, quem fala mais alto é quem melhor se ouve a si mesmo? E que o restante auditório não está minimamente interessado naquilo que está a dizer quem está a partilhar, mas apenas aguardando a sua vez para falar mais alto? Neste caso não há emissores e receptores mas apenas o primeiro. Quando tal acontece, o conhecimento não é partilhado e torna-se vazio e desproporcionado de um contexto. Sendo assim é apenas mais uma garrafa com uma mensagem no oceano.
Por consequência o défice de atenção decaiu até níveis nunca experimentados pelo ser humano. A sensação de enfartamento de informação foi semelhante a alguém que tem uma enorme biblioteca com milhares de títulos mas que não sabe por onde começar, portanto não começa por lado nenhum. A ilusão de um acesso facilitado e imenso à informação teve no ser humano o impacto exactamente oposto ao pretendido. Em vez de aumento de conhecimento e experiência, surgiu o aumento da estupidez e uma arrogância e ignorância a ela acoplados. 
Com o primeiro aparelho portátil com acesso à Internet surgiu a Grande Era da Estupidez.
Vamos analisar as principais características da mesma:
- Uma proliferação de entretenimento cronometrado. Dado o aumento de informação e a ilusão da falta de tempo, o tempo de entretenimento começou a ser marcado como se de uma batuta tratasse. Se após 40 segundos, o leitor e/ou ouvinte não se sentir minimamente preenchido com aquilo que está a visualizar e /ou ouvir, é tempo de passar para outro vídeo/música/texto que preencha os requisitos acima descritos. Ainda que tenha muitas visualizações e/ou escutas, o fenómeno será meramente passageiro e não será recordado. Na Grande Era da Estupidez nada teve uma História.
- A degradação das condições de vida da maioria da população. Esta com os cortes salariais e aumento de impostos tendo em vista a alimentação constante do monstro bancário, levou o ser humano a fazer qualquer coisa por dinheiro. O dinheiro tornou-se mestre e o Homem seu escravo, como nunca antes se sucedera na História humana. Perante tamanha pressão, o Ser Humano sujeita-se a tudo e abdica de todo o tipo de valores.
- As religiões como objectos museológicos. Perante o laicismo de todos os Estados Ocidentais, o Ser Humano experimentou pela primeira vez desde que saiu das cavernas, uma ausência de espiritualidade que se repercutiu nos valores acima mencionados. Valores como partilha, a ajuda ao próximo, a hospitalidade e a "bondade" tornaram-se obsoletos e encarados como uma perda de tempo. O individualismo proporcionado por uma informação no momento e acessível no bolso, levou a que o Humano deixasse de ter necessidade do Outro. Como o Outro desaparece, com ele desaparecem os valores inerentes, incutidos durante gerações. O Humano sem estes torna-se como um cão perdido que não sabe para onde ir, mas que pensa que sabe, dada essa Informação disponível. Essa ilusão potencia a Estupidez
- O aumento das doenças mentais. Desde o Iluminismo que o Humano potencia muito mais o cérebro e o Racionalismo até pontos outrora inimagináveis. Com essa prevalência da Racionalidade acima do Animal, toda uma série de doenças mentais novas surgiram durante todo o século XX. Com estas veio um acompanhamento terapêutico e uma série de drogas para iludir essas mesmas doenças . Essas drogas químicas produzidas por grandes laboratórios internacionais tornaram-se de tal forma vulgares, que mesmo quem não necessita delas as usa. Com isso veio um grau de adição e uma velhice que leva muitas vezes a uma descompensação que se torna irreversível, especialmente pela degradação das condições de vida mencionadas no ponto 2 

(... a continuar )

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

#109 10 000 Russos "CSKA Putin"



Uma música por dia

#18 10 000 Russos ( CC Stop / Sibéria )

Como ontem não postei uma música, hoje vão duas. Esta é a banda que tenho com o meu bom amigo Pedro Pestana (na guitarra). Este vídeo foi captado para a Videoteca do Bodyspace aquando do Milhões de Festa. A captação decorreu na Quinta do Aparício, local onde residia um dos meus melhores amigos, e em frente do muro onde com 15 anos pintamos a graffiti as palavras "Nazi Punks Fuck Off" ( banda que tínhamos na altura )


Uma música por dia

# 17 Demons Claws ( Montreal / Canadá )

Filhos da puta já me desbundaram a cozinha toda ( bem que me pagaram finos no dia seguinte no Barreiro Rocks).
Foi mais ou menos assim lá no Barreiro:
( Em português ) : - "Estava boa a carbonara meus cabrões do caralho?"
( Eles não entendendo mas entendendo que eu estava zangado ) : "It wasnt us, it was the german tour manager"
Claro, culpar a Alemanha. Táctica um bocado velha, não?
This is Football ( homens do jogo que a História olvidou)

- Stan "Morty" Mortensen (1921-1991)

Antes de mais é de um sobrevivente da 2ª Guerra Mundial de quem falamos aqui. Mortensen foi o único sobrevivente do seu batalhão aquando da queda do avião da RAF em que seguia. Conhecido já pelo seu toque de bola fez parte da selecção inglesa durante a Guerra protagonizando um dos episódios mais bizarros do jogo quando em 1943 num encontro contra o País de Gales, basicamente trocou de lado perante a lesão de um jogador galês. O mais curioso foi não ter avisado ninguém do sucedido. Nem o público, nem o treinador, nem os seus colegas de equipa sabiam que Morty estava a jogar de vermelho e só o detectaram durante o próprio jogo. O mais curioso é que Morty tinha 0 internacionalizações na altura. A sua estreia acabou por ser em 1947 numa vitória por 10-0 contra Portugal em que marca 4 golos, tendo somado 25 internacionalizações e 23 golos.
Jogou 14 anos no Blackpool, sendo o melhor marcador da Liga Inglesa em 1951. 2 anos depois vence a Taça de Inglaterra num espectacular jogo, o primeiro a ser transmitido pela BBC, num 4-3 contra o Bolton, tornando-se no primeiro e até hoje único jogador a fazer um hat-trick na final. Embora tenha sido na realidade o herói do jogo, foi secundado por um tal de Stanley Matthews na altura com 38 anos, que fez uma segunda parte brutal com assistências, dribles marados e arrancadas imparáveis ( o Blackpool perdia por 3-1 ao intervalo).
Tem uma estátua sua em frente de Bloomfield Road, casa do Blackpool, paga pelos habitantes da cidade e a sua personagem aparece no filme "Game of their lives" (sobre a equipa americana de amadores que venceu a Inglaterra no Mundial de 1950) interpretado por Gavin Rossdale dos Bush(!!!) que deixou críticas a vários especialistas e adeptos : "Morty - a working class Geordie - is portrayed in the film as a sneering toff"

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Para que precisas de Universidades e gabinetes de investigação quando tens tertúlias de amigos e google?

- Ontem discutia com um amigo um documentário que tinha visto acerca de "ladyboys" na Tailândia. O facto de haver 300 vezes mais do que em França lançou o debate.
- A religião budista (maioria na Tailândia) encara os "ladyboys" ou "kathoey" como alguém que reencarnou um espírito que noutra vida fez merda (matar,difamar,etc.) e como castigo têm de viver no corpo de um género que não o seu. Como não têm culpa, não podem ser discriminados. Por isso trabalham quase todos em empregos normais, ao contrário do que se pensa na Europa de que serão todos prostitutos. Mantêm vidas familiares e sociais normais. Ao contrário de França em que o isolamento, a toxicodependência e a prostituição são normais junto dos transexuais.
- Mas isto só não chegava. 300 vezes mais é um número elevadíssimo. Algo mais tem de estar por trás disso.
- Nós somos antes de mais aquilo que comemos. É por isso que é raro encontrar junto daquelas bestas americanas com 160 kilos alimentados a chicken wings e a Wendys alguém que saiba localizar o próprio país no mapa. Mas aquilo que comemos influencia também o nosso grau hormonal, que apesar de genético, é depois moldado ao longo da nossa vida.
- Reparei que o nível de testosterona era muito baixo na Tailândia, quando lá estive. É raro encontrarmos alguém com barba, ou com aquele capado à macho. São todos baixinhos e com traços femininos. Alimentos como alho, couve de bruxelas ou queijo que são ricos em testosterona lá simplesmente não existem.
- É um povo que come muita soja e seus derivados. Este é o alimentos mais ricos em estrogênio de todos.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Comets On Fire - The Bee and the Cracking Egg



Uma música por dia

#16 Comets on Fire ( Frisco / California )

Tenho uma história tragicómica com estes gajos. Já jantei uma arrozada de frango com eles e achei-os uns "se bens". Malta mesmo porreira. Como já tinha visto Caveira e não tinha nenhuma Aspirina no bolso, decidi ir a casa ( a uns 10 minutos ) responder a uns mails e voltar pronto pronto para os ver no Porto Rio. Quando entrei na sala ouvi "thank u, good night".
Não podia ficar assim. No ano seguinte eu estava no Primavera Sound e eles também. Ainda por cima a tocar este disco na íntegra. Não havia desculpas. Eu ia ver Comets finalmente. O que se passou só adiciona o teor tragicómico à coisa. O vento que se fazia sentir naquele palco junto ao Mediterrâneo levou o som todinho para o mar. Aposto que os peixes devem ter ficado todos malucos, mas eu na realidade ouvi Comets lá ao fundo quando os tinha à minha frente.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013



Uma música por dia

#15 Sonic Youth (NYC)

Uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos. Provavelmente a única que ficou das cassetes que ouvia no meu walkman aos 15 anos. São daqueles colectivos que não necessitam de biografia.
Uma altura conheci o Steve Shelley junto à Sagrada Família. Estava bebendo um granizado de limão do Starbucks. Agradeci-lhe pelo concerto do dia anterior (SY tocaram o "Daydream Nation" na integra no Primavera de Barcelona) e arrepiei caminho que não gosto de estar muito tempo com artistas que admiro. Por norma desiludem-me. Dei a volta ao quarteirão da Sagrada Família e quando estou a descer a rua, a única pessoa que vem a subi-la era Steve Shelley. Consciente do enfado que ele deve ter com gajos como eu, decidi não lhe dizer nada. Shelley levantou o seu granizado bem alto e com um sorriso de orelha a orelha berrou-me "Portugal!". Quase que chorava.

sábado, 7 de setembro de 2013

Tom Waits - (Looking For) The Heart Of Saturday Night



Uma música por dia

# 14 Tom Waits ( Pomona / California)

Uma altura um jornalista musical afirmou isto : "a voz dele é como se tivesse sido mergulhada num barril de bourbon, deixada pendurada num fumeiro durante uns meses, posta cá fora e atropelada por um carro". De Charlie Patton a Springsteen há aqui ecos de uma América solitária, imensa e desesperada por esquecer quem é. Tom Waits é toda essa América de pianadas jazz em bares fumarentos, mulheres que vão e vêm, garrafas ao pequeno almoço e um abandono que só nos remete para outra pessoa :  Bukowski.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Thunderstorm - Here's To You



Uma música por dia

#13 Thunderstorm ( Paramaribo / Surinam!)

Não há praticamente informação nenhuma acerca deste colectivo.
O funk é même bom

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Números da dívida por cada habitante dos 10 concelhos mais endividados do país.

Exercício de números, com propósito meramente estatístico com números de 2009. É credível que alguns municípios tenham baixado a sua dívida, mas há provavelmente muito outros que aumentaram

1 - Lisboa ( 1 bilião 168 milhões 589 mil e 855 euros / 547 mil habitantes ) - 22 mil euros por habitante de dívida
2- Vila Nova de Gaia ( 285 milhões 956 mil e 34 euros / 302 mil habitantes) - 945 euros por habitante de dívida
3- Aveiro ( 154 milhões 707 mil e 734 euros / 78 mil 450 habitantes ) - 1972 euros por habitante de dívida
4- Porto ( 132 milhões 949 mil e 369 euros / 237 mil habitantes ) - 559 euros por habitante de dívida
5 - Gondomar ( 127 milhões 614 mil  e 102 euros /  168 mil habitantes ) - 759 euros por habitante de dívida
6 - Funchal ( 106 milhões 248 mil e 703 euros / 111 mil habitantes ) - 957 euros por habitante de dívida
7 - Sintra ( 96 milhões 459 mil e 76 euros / 377 mil habitantes ) - 255 euros por habitante de dívida
8 - Braga ( 95 milhões 911 mil e 245 euros / 181 mil habitantes ) - 529 euros por habitante de dívida
9 - Covilhã ( 95 milhões 57 mil e 913 euros / 36 mil habitantes ) - 2640 euros por habitante de dívida
10 - Portimão ( 92 milhões 204 mil e 744 euros / 55 mil habitantes ) - 1676 euros por habitante de dívida

Sendo assim os habitantes mais endividados por município são em primeiro lugar Lisboa com um número de 22 mil euros por habitante que na prática a tornam numa cidade falida. Só o estar perto do poder central ainda vai ocultando isso. Em segundo lugar, a Covilhã com 2640 euros por habitante, depois Aveiro, seguida de Portimão, Funchal ,Gaia, Gondomar, Porto, Braga e por último Sintra.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

HAMID EL KASRI EL BOUHALA 1.mpg



Uma música por dia

#12 Hamid El Kasri ( Alcácer-Quibir / Marrocos )

É melhor não colocar um texto biográfico e só ouvir esta música.
Música gnawa. A que me arrepiou na Jemaa el-Fnaa. Que me fez ver um tipo de cadeira de rodas a ter ataques no chão, olhos revirados e um sorriso de "finalmente estou livre". Levar para outra dimensão e escapar da banalidade de todos os dias. Sufi para unir e libertar. Sufi para cantar em conjunto. A música de todos e para todos.Sem palco. Todos somos os músicos e todos somos os ouvintes. Versos do Corão em toada pergunta-resposta. Não entendi nenhuma palavra e todos os pêlos me eriçaram de cada vez que esta comunidade cantava com tudo o que tinha. Garganta cheia e um sorriso naqueles rostos queimados pelo deserto.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Dalek Culture for Dollars



Uma música por dia

# 11 Dalek ( Newark / New Jersey )

Colectivo de hip hop muito distante da imagem que temos do género actual. Aqui não há guerras East / West Coast , bling bling e hoes. Só negritude, Faust e letras que provam que esta pessoa na realidade leu alguns livros.
Pertencentes ao catálogo da Ipepac Records e tendo feito tours com bandas tão diversas como Melvins, De La Soul e Godflesh, esta banda do estado-subúrbio é na opinião de um aclamado crítico "a mix between My Bloody Valentine and Public Enemy that actually works. better... it makes all the sense".
Também acho.
ps: consultar as letras deste colectivo. mind blowing e das melhores coisinhas que vão ler dentro do hip hop actual.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

HALLOWEEN - Drunfos (Official Video)



Uma música por dia

#10 Allen Halloween (Santo António dos Cavaleiros / Suburbia )


Allen Halloween é uma personagem de Santo António dos Cavaleiros. Tão real como o catanço.
Allen não se põe a falar mal de outros MCs. Allen descreve a sua vida.
A vida do Allen é fodida, ou foi fodida, e ele foi fodido, mas fartou-se de foder. Como relatam as letras.
Que são fodidas.
A minha experiência no Programa Novas Oportunidades

Há coisa de uns meses atrás escrevi um texto sobre este assunto para uma publicação que teve como único "feedback", as ameaças à minha pessoa, as ameaças com tribunal e uma série de ofensas, que muito me diverti ao ler. Confesso que escrevi o texto de cabeça quente ( ainda com problemas legais com o programa em si) ao qual a junção de fotos, com as quais nada tiver a ver com sua selecção, veio piorar a situação.
Vou então fechar este assunto de vez, descrevendo ao pormenor em que constituiu o meu trabalho de 3 anos junto deste Programa que visava elevar a escolaridade dos portugueses.

Na teoria, este programa parece uma boa iniciativa. Sem dúvida que são vários os casos de portugueses que abandonando cedo a escola enveredaram por uma vida de trabalho que lhes trouxe uma série de competências a vários níveis que lhes possibilitaria ter equivalência ao 9º ou ao 12º ano (havia ainda aqueles que conseguiam fazer 4ª classe ao 12º ano, apenas em 10 meses). Mas como em tudo neste país, o que está na teoria no papel, não se aplica depois na prática. É a prática que eu vou desenrolar neste texto.

Certificação de competências. Tudo se resumia a isso. A pessoa apreendeu uma série de competências ao longo da sua vida profissional e pessoal e vai registá-las para que as possamos certificar e validar. É toda esta série de competências que lhes vai possibilitar ter acesso a uma escolaridade que lhes daria acesso ao 9º ou ao 12º ano. O meu centro ( e havia centenas de Centros Novas Oportunidades no país todo ) dispunha de técnicos- diagnóstico ( que entrevistavam quem poderia ou não entrar no programa ), técnicos ( que demonstravam o processo na teoria em cada Junta de Freguesia onde o Centro estava a trabalhar - sim, éramos itinerantes ) e por fim, formadores - onde me encaixava eu -que trabalhavam no terreno com os adultos o seu processo formativo. À partida, o nosso trabalho resumia-se ao "mero acompanhamento" daquilo que o adulto ia escrevendo na sua "História de Vida" com os respectivos núcleos, devidamente assinalados, onde se certificava as diversas competências que o adulto tinha ( que iam desde competências de leitura, escrita, História local e nacional, cidadania, preocupação ambiental, noções base de Matemática, noções básicas de Direito ...).

A realidade de todo este "idealismo educativo" cedo começou a cair por terra. Antes de mais o programa antes de ser qualitativo começou por ser ser quantitativo. Não interessava tanto a qualidade dos trabalhos, mas mais a quantidade de adultos que conseguíamos certificar por ano com equivalência de 9º e 12º anos. E para o Centro continuar aberto, teríamos de ter um X todos os anos. E no segundo ano esse X passou para o dobro e no terceiro para o triplo - altura em que bati com a porta. Com certeza, que com todas as nossas lacunas culturais e formativas, o facto de aumentarem o número de "adultos" ( era assim que eram conhecidos e não por alunos) nos iria trazer problemas.

Os técnicos-diagnóstico devido a pressão interna e externa, começaram a colocar todos os "adultos" que conseguiam no Programa e cujo trabalho (conhecido como "História de Vida") tinha de ser realizado num computador pessoal, que para os inscritos no programa, chegavam a valores irrisórios. A maior parte dos inscritos nunca tinham sequer ligado um computador pessoal. Aqui começava o problema número 1, que o formador de Informática nas suas 10 aulas não conseguia resolver. Depois começava o problema número 2 para os técnicos: os adultos tinham um vocabulário muito limitado e o afastamento deles em relação aos livros, piorava ainda mais a situação, pois raro era o "adulto" que não mandava dois, três ou quatro erros por frase. Ao nível de pontuação, o caso ainda era mais bicudo, já que praticamente ninguém sabia usar vírgulas, discurso directo ou pontos. Foi de tal forma extremo este último ponto que deixávamos ficar com erros a tal "História de vida" até ao seu final, altura em que nós formadores surgíamos, quais Mister Magoos, para dar alguma ordem e tornar o dossier legível para o júri que ia decidir se aqueles adultos tinham competências de vida ou não.

Quando eu começava o meu trabalho, os grupos de "adultos" já tinham sido formados ( Barcelos tem 89 freguesias e cada Junta de Freguesia teria as seus 30 a 40 pessoas em processo formativo) e a sua "História de Vida" redigida e era aqui que eu entrava em acção. Armado com uma cartilha de Núcleos geradores de competências formativas em "Cidadania e Profissionalidade", eu tinha de fazer com que os adultos demonstrassem essas mesmas competências. E eles tinham de ter essas competências, desse por onde desse, mesmo que não as tivessem. Era aqui que entrava em acção a Internet e a sua capacidade de plágio. Duvido mesmo que sem Internet ,90 por cento destas pessoas conseguissem ter concluído o programa ( e acreditem, mesmo com todas estas facilidades havia muita gente que desistia a meio). Eu tinha 2 horas com eles por semana, onde os instruía de que núcleos geradores tinham de falar (eram cerca de 10), dando 2 Núcleos por "aula" e corrigindo-os na semana seguinte. Um por um. 

Vou dar-vos um exemplo para vos dar uma luz, porque acredito que ainda exista alguma abstracção do que é um Núcleo gerador. Um deles seria: "Demonstre que tem conhecimentos de História de Portugal, comentando um determinado episódio da nossa História e em como isso influenciou o nosso presente". Na teoria soa lindamente. Na prática, ninguém sabe nada da nossa História. O que as pessoas faziam era ir buscar um acontecimento do nosso passado recente, que elas próprias ainda tinham vivido, copiar esse acontecimento do wikipedia e no final comentar esse plágio. 95 por cento escolhiam o 25 de Abril. Ninguém parece ter entendido o que esse episódio da nossa História recente realmente alterou no nosso país, o que levava a que na maior parte das vezes eu tivesse de reescrever o comentário deles com palavras minhas. Moral e éticamente errado? Completamente. Se não o fizesse, perdia o emprego? Completamente.

O mais caricato desta situação era o pretenso júri ( escolhido dela DREN e que recebia à cabeça por cada adulto certificado com 9º e 12º ano) que como quem não vê um acidente na estrada, deixava todos estes plágios passarem em claro. Bastava escrever a primeira fase no motor de busca "Google" para encontrarmos o plágio, mas o dinheiro fala sempre mais alto que a ética e apesar do meu esforço nos primeiros meses em não deixar passar plágios, as ordens superiores que tinha e o número de adultos certificados mensalmente, levaram a que me deixasse de preocupar com isso. Na realidade, ninguém parecia preocupado com nada e as sessões de certificação (ou sessões de júri) pareciam saídas de uma exposição surrealista de Dali mas em palavras. As apresentações de algumas das pessoas eram totalmente obtusas e demonstravam uma grande carência ao nível formativo, educativo e cultural.

Vários atentados foram cometidos. Pessoas certificadas com o 12º ano que tinham deixado a escola há 2 anos (sim, pessoas com 19 anos) sendo que o programa tinha sido desenhado para quem tinha abandonado a escola há pelo menos 10 anos, pessoas que não sabiam conjugar verbos quando faziam a apresentação da sua "História de vida" ( o "eu fez" ou o "eu foi" eram frequentes),pessoas que tinham vidas todas iguais umas às outras que tornava quase impossível distinguir as "Histórias de vida", pessoas que admitiam ter copiado tudo da Internet,pessoas que admitiam que tinham sido os filhos a escrever aquilo por elas, pessoas que e mais pessoas que...

Como conclusão: foi uma experiência profissional péssima, já que trabalhei bem cedo na minha vida profissional com a mentira, o engano, o plágio e a corrupção. Centenas e centenas de adultos foram certificados com o 12º ano sem a mínima preparação para tal. Tentámos passar uma imagem daquilo que não somos e agora que o Programa Novas Oportunidades já não existe e caiu no esquecimento, pela seriedade da questão e por alguma réstia de vergonha na nossa Educação Nacional (que praticamente desapareceu), investigue-se o que aqui se passou. Com uma testemunha já podem contar.