terça-feira, 20 de agosto de 2013

Top 3 - País Basco
Uma semana nesta região tão particular de Espanha originou esta escala de experiências, que recomendo vivamente.
Antes de entrarmos no País Basco há uma série de considerações a tomar. Uma, aquela língua estranha que eles falam, em que as palavras terminam invariavelmente em "ak" ou "autz", não tem realmente uma origem traçada e encontra-se no grupo das 3 línguas europeias (as outras duas são o húngaro e o finlandês) das quais existem várias teorias sobre a origem, mas nenhuma conclusão fundamentada. O basco tanto pode ter sido trazido por tribos da Georgia por alturas da queda do Império Romano (hipótese pouco verosímil), como ter sido originário de uma língua pré-latina que existia na zona da Aquitânia ( região em torno de Bordeaux). De qualquer das formas, qualquer semelhança com o castelhano será mera coincidência e quanto muito pode ter uma palavra de origem em comum mas uma terminologia sempre em basco (um exemplo é a palavra basca para salsicha que é salxitxak) . A outra consideração a tomar é esta: o País Basco já há muito que não é um local inseguro, onde bombas artesanais explodem em carros no centro de Bilbao. A ETA já não se encontra operacional, mas o tradicional protesto independentista e o fazer frente a Madrid será bem visível ao longo de toda esta viagem. Os Bascos fazem questão de frisar que eles não são espanhóis e a verdade é que 3 dias depois de lá estarmos, já estamos todos a torçer por eles e a comprar pins magnéticos do Athletic Bilbao para colocarmos no frigorífico lá de casa.
Portanto aqui, vai o top 3 de experiências a ter no País Basco num espaço de 3 dias (dá um dia por experiência que nem Jimi Hendrix)






1- A arte de tainar pintxos em San Sebastián.


Dois apontamentos aqui: em primeiro lugar, San Sebastián é a grande meca mundial da gastronomia. Com 14 estrelas Michelin ( existem 3 restaurantes com 3 estrelas cada) para 180 000 habitantes, poderemos afirmar que os habitantes desta estância de férias para a burguesia basca e espanhola, poderão ter propensão para a barriga bem nutrida e para o palato bem degustado. Em segundo lugar, se por cada restaurante destes e que têm um preço médio proibitivo por pessoa (na casa dos 150 euros),  isso não irá tornar a segunda cidade do País Basco, um local à partida banido para uma pessoa se perder na nobre arte na taina .Isto porque o centro histórico está repleto de bares e restaurantes que servem pintxos que parecem cair sobre o seu próprio peso nos balcões. E o que é um pintxo? Algo tão normal como uma tosta que por cima pode levar desde anchovas com maionese ou um jamon ibérico com uma azeitona espetada em cima mas que é aqui  levado a todo um novo nível de nano-culinária e de "nova cozinha basca". Vou dar os exemplos a partir do que comi: uma tosta de queijo de cabra com uma cama de caramelo encimada com um figo e rúcula espalhada, ou uma bola de gelatina animal com uma gema de ovo dentro com umas estranhas migas laranja em volta. E tudo isto muito acessível para o comum cidadão em termos de preços. A destacar também os óptimos gelados artesanais que a cidade produz, que a juntar às suas praias urbanas (votadas as melhores da Europa) e o seu centro Romântico com edifícios em Arte Nova e Art Deco fazem desta urbe, capital da região de Guipuzcoa, um dos paraísos europeus na arte de bem-viver.




2 - O bosque pintado de Oma




A prova de que não precisamos de um edifício ultra-modernista, com saídas de emergência por todo o lado, extintores à mão de semear e parque subterrâneo para termos um museu de arte contemporânea. O bosque pintado de Oma é uma obra magistral da chamada "Land Art", um derivativo da arte contemporânea em que a própria paisagem e os seus componentes como pedras, árvores e cursos de água formam a própria obra em si, sem ser necessário cortar,decepar ou alterar profundamente esses mesmos componentes naturais. Antes de mais, não é nada fácil chegar ao bosque pintado. A uns 5 kms de Gernika (sim, a mítica Gernika do quadro e símbolo da união entre os povos que falam basco), espera-nos um caminho de terra meramente pedonal que entra por um bosque adentro. São quase 3 kms a pé até conseguirmos chegar ao bosque pintado, mas chegados lá , não será fácil de se esquecerem do que estão a ver. São cerca de 150 troncos que foram pintados entre 1982 e 1985 pelo artista plástico basco Agustín Ibarrola, não muito longe da sua própria casa e que formam conjuntos estéticos e plásticos que vão desde a figura geométrica, a animais, lábios e tudo aquilo que o homem pode conceber apenas com a ajuda de troncos de pinheiro e tintas. Um local mágico.




3 - Conjunto do Museu Guggenheim em Bilbao





Bilbao é uma cidade estranha. Não é propriamente bonita, nem tem edifícios espectaculares e durante décadas foi abusada pela indústria pesada da construção naval, siderugia e comércio para vários portos deste Mundo. Mas é uma cidade com muito capital como o provam os seus 4 bancos e uma das maiores empresas de energia da Europa (a Iberdrola). Como tal, e para dar um refresh" numa cidade que outrora era totalmente industrial, mas que hoje é uma cidade de serviços, decidiu-se em 1997 inaugurar-se todo o conjunto em torno do Museu Guggenheim, onde outrora foi um aterro industrial junto ao rio Nervión. Com isso, Bilbao tornou-se numa cidade com turismo e também um centro das artes plásticas europeias. Passou de 8 para 80. Se visitarmos todo este conjunto que é efectivamente impressionante, o melhor é fazerem o caminho a pé pela beira-rio desde o Casco Viejo e encontrarem a ponte Zubizuri (ponte branca em Basco) desenhada pelo conceituado arquitecto - e vizinho de Woody Allen - Santiago Calatrava. A ponte gera diversas ilusões de óptica por trás e pela frente, já que esta parece construída a direito. Só quando estamos ao seu nível é que reparamos que a mesma é em curva e os seus cabos de suporte do arco superior estão entrelaçados. O efeito é semelhante ao de uma onda, sendo a estrutura que a suporta semelhante a uma espinha de peixe (o que a liga emocionalmente  à região, muito dependente do mar). Mais em frente surge-nos um conjunto de 3 esculturas, todas elas diferentes e todas elas originais. A primeira trata-se de "Maman" de Louise Bourgeois, uma enorme aranha em bronze, contendo no seu ventre 26 ovos em mármore. A segunda são um conjunto de 73 esferas unidas por aço de Anish Kapoor, num complexo trabalho de geometria, e a terceira é o icónico "Puppy" de Jeff Koons e um dos símbolos da cidade. "Puppy" é uma gigantesca obra em flores com 13 metros de altura de um West Highland White Terrier. É impossível não se exclamar um "ooooh", aquando da sua vista. Perante tamanho aparato artístico, parece que o próprio museu passa despercebido, mas ele é na realidade o grande médio volante desta zona. Todo revestido a titânio e projectado por esse Andrea Pirlo da arquitectura contemporânea (pelo facto de baralhar e voltar a dar e de espetar bufardas ao ângulo) que é Frank Gehry, é uma obra ímpar da arquitectura, quer pela sua forma que parece uma espécie de navio à deriva em forma de escamas de peixe, quer pela projecção do próprio interior que nunca parece obedecer a qualquer norma de ângulos em edifícios. No seu recheio encontrámos obras e mais obras de ímpar importância para a arte contemporânea como serigrafias de 150 Marilyns Monroes de Andy Warhol, um quadro obcecado com charcutaria de Basquiat, "Walking" de Gilbert and George, "Flamingo Capsule" de James Rosenquist, baseado num acidente de foguetão e "A matéria do tempo" de Richard Serra, um conjunto de 7 esculturas monumentais em aço corten, onde diversas elipses e paredes que parece que vão cair do tamanho de 4 metros e diferentes acústicas conforme o corredor de aço (circula-se por dentro da obra), nos fazem ter diferentes perspectivas do tempo e do espaço. Aparte disso desenrolam-se sempre exposições temporárias nos pisos de cima (no 2º piso decorria uma acerca da arte na França ocupada de 2ª Guerra Mundial, e no 3º piso outra sobre Barroco e exageros - onde até uma tira de Crumb nos surge). Totalmente indispensável a visita. 

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