Pâncreas, esse filho da puta.
Aqueles que acreditam na grande evolução humana nos últimos 200 anos, deviam de refrear os seus ânimos. É verdade, que ao nível do material, sofremos evoluções consideráveis, nomeadamente na velocidade das comunicações, físicas, ou não tão físicas. Mas ao nível da nossa evolução interior, esta simplesmente ocorreu e ainda ocorre com grande lentidão.
Ainda há pouco tempo um dos gurus dessa comunicação em tempo real, Steve Jobs, deixou-nos e a onda de comoção nas redes sociais foi deveras assinalável. Tinha morrido um génio, um gajo que mudou a forma como vivemos e blablabla.
Na realidade (daqui fala uma pessoa com ausência de produtos Apple) morreu o gajo que nos leva à não comunicação física, sempre agarrados aos "tablets" e "iphones", filmando tudo, registando tudo -numa ânsia voraz de um arquivo que nem o próprio irá consultar -comunicando tudo o que é possível comunicar sem filtro. Morreu o gajo que nos mantém mais distantes, mais longes dos olhares de cada um, e assim um grande homem se foi.
Mas este texto não é sobre aquele que Kutcher irá representar no cinema (o que é má onda, penso que um filme só deveria ser realizado aquando do cadáver já em avançado estado de decomposição).
É sobre António Borges, embora não tanto sobre ele mas mais acerca da reacções à sua morte.
Na realidade penso que continuamos a ser umas criaturinhas irracionais, que continuam a ladrar "burn the witch" aquando da sentença de uma velhota com aspecto de bruxa (e todos sabemos de como eram os "questionários" na Inquisição) e aplaudem a cabeça de Maria Antonieta num cesto de vime.
Somos uns filhos da puta irracionais, é o que somos.
António Borges não era efectivamente uma figura bem vinda junto de vários meios da "intelegentzia" nacional. Eu próprio não concordava com a sua visão thatcheriana de segunda linha, do mercado livre, do Estado quase inexistente, da ausência de apoios e subsídios ao cidadão. Penso que levar alguém tão leviano e calado como o dinheiro para ponta de lança de uma teoria política, é como contratar alguém como Cardozo. O gajo até pode dar uma ajuda aqui e ali, mas mais cedo ou mais tarde vai atirar-vos ao chão de empurrão. É assim o dinheiro e como tal não se pode coadunar com teorias políticas, porque o dinheiro é áspero, é puta ( porque salta de mão em mão) e é muito injusto porque nunca respeita qualquer tipo de norma. É portanto suicida.
A tolerância no entanto, é só para alguns, muito mais na teoria que na prática. Podemos ficar contentes com a morte de um ditador africano, já que é alguém que dizimou aldeias em seu proveito. Podemos ficar contentes com a morte de Assad pelas mesmas razões. Mas ficar contente com a morte de alguém que tinha uma opinião diferente da nossa é somente atrasado. E sim, é atrasado mental.
Borges tinha um percurso académico e profissional brilhante. Dentro da sua área trabalhou directamente com o FMI e a Goldman Sachs, que gostando ou não, são as instituições que dominam a nossa política nacional, porque nós deixamos, quando digo nós, digo mesmo nós os que os elegemos para tomar essas medidas de subjugação a interesses estrangeiros. Além do mais esteve no conselho da administração da Petrogal, Sonae, Citibank, BNP Paribas, Jerónimo Martins ou Vista Alegre. E foi também um professor universitário de renome acarinhado pelos seus alunos (que de certeza tinham teorias políticas díspares ).
Festejarmos a morte de alguém que trabalhou a vida toda em cargos desta importância, alguém que tinha uma opinião diferente da nossa revela uma pequenez mental, proporcional ao nosso tamanho. Mas nada que surpreenda por aí além.
Aqueles que acreditam na grande evolução humana nos últimos 200 anos, deviam de refrear os seus ânimos. É verdade, que ao nível do material, sofremos evoluções consideráveis, nomeadamente na velocidade das comunicações, físicas, ou não tão físicas. Mas ao nível da nossa evolução interior, esta simplesmente ocorreu e ainda ocorre com grande lentidão.
Ainda há pouco tempo um dos gurus dessa comunicação em tempo real, Steve Jobs, deixou-nos e a onda de comoção nas redes sociais foi deveras assinalável. Tinha morrido um génio, um gajo que mudou a forma como vivemos e blablabla.
Na realidade (daqui fala uma pessoa com ausência de produtos Apple) morreu o gajo que nos leva à não comunicação física, sempre agarrados aos "tablets" e "iphones", filmando tudo, registando tudo -numa ânsia voraz de um arquivo que nem o próprio irá consultar -comunicando tudo o que é possível comunicar sem filtro. Morreu o gajo que nos mantém mais distantes, mais longes dos olhares de cada um, e assim um grande homem se foi.
Mas este texto não é sobre aquele que Kutcher irá representar no cinema (o que é má onda, penso que um filme só deveria ser realizado aquando do cadáver já em avançado estado de decomposição).
É sobre António Borges, embora não tanto sobre ele mas mais acerca da reacções à sua morte.
Na realidade penso que continuamos a ser umas criaturinhas irracionais, que continuam a ladrar "burn the witch" aquando da sentença de uma velhota com aspecto de bruxa (e todos sabemos de como eram os "questionários" na Inquisição) e aplaudem a cabeça de Maria Antonieta num cesto de vime.
Somos uns filhos da puta irracionais, é o que somos.
António Borges não era efectivamente uma figura bem vinda junto de vários meios da "intelegentzia" nacional. Eu próprio não concordava com a sua visão thatcheriana de segunda linha, do mercado livre, do Estado quase inexistente, da ausência de apoios e subsídios ao cidadão. Penso que levar alguém tão leviano e calado como o dinheiro para ponta de lança de uma teoria política, é como contratar alguém como Cardozo. O gajo até pode dar uma ajuda aqui e ali, mas mais cedo ou mais tarde vai atirar-vos ao chão de empurrão. É assim o dinheiro e como tal não se pode coadunar com teorias políticas, porque o dinheiro é áspero, é puta ( porque salta de mão em mão) e é muito injusto porque nunca respeita qualquer tipo de norma. É portanto suicida.
A tolerância no entanto, é só para alguns, muito mais na teoria que na prática. Podemos ficar contentes com a morte de um ditador africano, já que é alguém que dizimou aldeias em seu proveito. Podemos ficar contentes com a morte de Assad pelas mesmas razões. Mas ficar contente com a morte de alguém que tinha uma opinião diferente da nossa é somente atrasado. E sim, é atrasado mental.
Borges tinha um percurso académico e profissional brilhante. Dentro da sua área trabalhou directamente com o FMI e a Goldman Sachs, que gostando ou não, são as instituições que dominam a nossa política nacional, porque nós deixamos, quando digo nós, digo mesmo nós os que os elegemos para tomar essas medidas de subjugação a interesses estrangeiros. Além do mais esteve no conselho da administração da Petrogal, Sonae, Citibank, BNP Paribas, Jerónimo Martins ou Vista Alegre. E foi também um professor universitário de renome acarinhado pelos seus alunos (que de certeza tinham teorias políticas díspares ).
Festejarmos a morte de alguém que trabalhou a vida toda em cargos desta importância, alguém que tinha uma opinião diferente da nossa revela uma pequenez mental, proporcional ao nosso tamanho. Mas nada que surpreenda por aí além.
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